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O Parque Natural da Serra da Estrela (PNSE) abrange uma área montanhosa, localizada no centro-este do território português, repartida pelos concelhos de Celorico da Beira, Covilhã, Gouveia, Guarda, Manteigas e Seia, constituindo uma das mais extensas áreas protegidas nacionais.

O Parque foi criado em 16 de julho  de 1976 (D.R. nº. 557/76), com uma área inicial de 52 000 hectares, tendo os seus limites sido redefinidos em revisões posteriores. Em 1979, a sua área foi ampliada para 101 060 hectares, (D.R. nº. 167/79) e, mais recentemente, em 2007 (D.R. nº. 83/2007) sofreu uma redução para 88 850 hectares.

O PNSE compreende uma sucessão de planaltos que se estende desde a Guarda, a nordeste, até aos contrafortes da serra do Açor, a sudoeste, no concelho de Seia. Ocupa uma área de média e alta montanha, que inclui o ponto mais elevado do território continental, a 1993 metros de altitude, e onde se observam os melhores testemunhos de uma paisagem glaciar a nível nacional.

O carácter  único das zonas mais elevadas da serra e a sua situação geográfica determinam um isolamento reprodutor de populações de fauna e de flora que conduz à diferenciação em espécies, subespécies e variedades exclusivas, tais como a silene (Silene foetida foetida) ou a lagartixa-da-montanha (Iberolacerta monticola monticola). Em consequência, o Conselho da Europa, em 1993, designou uma área de 10 610 hectares como Reserva Biogenética, que representam aproximadamente 12% do total do Parque Natural.

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 Silene

 Lagartixa-da-montanha

 Covão Cimeiro

 Lagoa da Francelha

Reforçando a sua importância internacional para a conservação da natureza, foram designados outros instrumentos de ordenamento e gestão na área da serra como o Sítio de Interesse Comunitário, proposto para integrar a Rede Natura 2000, em 2000 (Resolução de Conselho de Ministros nº 76/00 de 5 de julho ), e a Zona Húmida de Importância Internacional ao abrigo da Convenção de Ramsar, em 2005. O Sítio de Interesse Comunitário ocupa uma superfície de cerca de 88 291 hectares e resulta de, nesta área, ocorrer um total de 32 habitats naturais, cinco dos quais prioritários, que dão abrigo a numerosas espécies animais e vegetais cuja conservação a nível europeu se considera prioritária. A Zona Húmida de Importância Internacional abrange uma área de 5075 hectares do planalto superior da serra da Estrela e da cabeceira do rio Zêzere e inclui, a nível nacional, o mais importante conjunto de turfeiras e lagoas de origem glaciária.

Serra da Estrela

A serra da Estrela situa-se na transição entre as regiões amenas e húmidas do domínio temperado oceânico, a norte, e as regiões quentes e de verões secos, de influência mediterrânica, a sul. A sua altitude elevada face aos terrenos circundantes, a organização geral do relevo e a relativa proximidade ao oceano Atlântico, a cerca de 100 quilómetros de distância, desempenham um papel determinante no complexo mosaico de climas locais que caracteriza a região .

A precipitação média anual atinge valores superiores a 2500 mm, nas áreas de maior altitude do Planalto Superior, Alto da Pedrice e Poios Brancos, enquanto que os valores mínimos se verificam nas áreas basais, nos setores noroeste e sudeste, com cerca de 1000 a 1200 mm. Uma área significativa da serra da Estrela, situada acerca de 1400 metros de altitude e que abrange os planaltos das Penhas Douradas, do Curral Martins e do Curral do Vento, recebe uma precipitação média anual, que varia entre os 2000 a 2500 mm. O regime de precipitação na região é marcado por uma notória influência mediterrânica que se traduz em verões  quentes e secos e invernos húmidos, bem como pela irregularidade interanual e intermensal da precipitação.

A queda de neve é mais frequente de dezembro  a março. Nas Penhas Douradas, no período entre 1941 e 1970, observou-se um número médio de 33 dias de queda de neve e uma cobertura do solo com neve de 52 dias. Nas áreas mais elevadas da serra estes valores são superiores, enquanto que nas zonas mais baixas o número de dias com queda de neve é pequeno e irregular.

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  Lago Serrano

  Pormenor de geada

 Observatório meteorológico da Penhas Douradas


As temperaturas médias mensais, a partir dos dados recolhidos na estação meteorológica das Penhas Douradas, situada a 1383 metros de altitude, revelam que janeiro é o mês mais frio (2,5°C) e julho o mês mais quente (17,4°C), verificando-se uma evolução mensal regular entre os valores mínimos e os valores máximos. No que respeita à temperatura média mínima, janeiro é igualmente o mês mais frio, com um valor de -0,1°C. Apenas dezembro, janeiro e fevereiro apresentam temperaturas médias mínimas inferiores ou próximas de 0°C. Durante o verão, a média mínima é relativamente alta, sendo da ordem de 11 a 12°C. As temperaturas médias máximas apresentam um padrão térmico semelhante, alcançando no inverno valores de 4 a 6°C e nos meses mais quentes de 20 a 22°C, evidenciando o carácter quente do verão em Portugal. No topo da serra, a temperatura média anual é da ordem de 4ºC, sendo fevereiro o mês mais frio, com um valor de -2ºC, e julho o mês mais quente, com 12°C. 

 

 

Serra da Estrela

A serra da Estrela é constituída por extensos afloramentos de granitos, com idade entre 340 a 280 milhões de anos, intercalados com rochas metamórficas, como os xistos e os grauvaques, de idade entre 650 a 500 milhões de anos. Estas formações geológicas, dominantes, são atravessadas por numerosos filões de quartzo, de pegmatitos graníticos e de doleritos.

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 Planalto superior da Estrela

  Rio Zêzere, Vale de Amoreira

Nas áreas de granitos, com maior expressão no extremo norte da montanha e no maciço superior e zonas envolventes, a paisagem é dominada por planaltos extensos delimitados por vertentes abruptas. Nestas zonas, os cursos de água encontram-se instalados sobre a rede de falhas e fraturas tectónicas existente, apresentando, por isso, um traçado essencialmente retilíneo. Nos locais que estiveram sujeitos à ação dos glaciares, durante o último período glaciário, podem observar-se formas erosivas, como circos e vales glaciários e rochas aborregadas, bem como formas de acumulação, como moreias e blocos erráticos. Os testemunhos mais impressionantes deste período incluem, entre outros, o vale superior do Zêzere, a Garganta de Loriga, a Nave de Santo António, a moreia lateral do Covão do Urso, os blocos erráticos na margem norte da Lagoa Comprida e o Poio do Judeu, bloco errático de dimensões ciclópicas.

 3 - vale glaciar do zzere  4 - covo da nave garganta de loriga  5  covo do urso
 Vale glaciar do Zêzere

  Covão da Nave

  Covão do Urso

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  Nave de Santo António

 Campo de blocos erráticos

 Poio do Judeu

 


Nas zonas não cobertas pelas massas de gelo são evidentes os aspetos característicos das paisagens graníticas, como a existência de um manto de alteração mais ou menos desenvolvido, os caos de blocos e formas particulares associadas, como tors, castle koppies, nubbins, entre outros, que são o resultado da ação de diferentes agentes geólogicos, como a água, o vento, os fenómenos químicos e as diferenças de temperatura. Na serra, este tipo de paisagem encontra-se bem representado nas áreas do Cabeço de Santo Estêvão, das Penhas Douradas e das Penhas da Saúde.

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 Tor, Penhas da Saúde

 

 

Nos setores sul e sudoeste da serra, no limite entre a Estrela e o Açor, e na área entre Videmonte e Verdelhos, o domínio dos xistos e grauvaques, materiais cuja natureza impermeável facilita os processos erosivos e o escoamento superficial, originou uma paisagem que se caracteriza por uma sucessão de formas onduladas individualizadas e por uma rede de drenagem densa e muito sinuosa.

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Várzea, Cabeça

 

                                             

Serra da Estrela

Pela sua posição latitudinal e pequena distância em relação ao oceano Atlântico, a serra da Estrela está sujeita a influências climáticas mediterrânicas, atlânticas e continentais. Estes aspetos, em conjunto com a complexidade orográfica e geológica e com a ação do homem ao longo dos últimos séculos, determinam uma diversidade biológica elevada a nível da flora e da vegetação.

A variação altitudinal considerável desta montanha tem como consequência uma zonação bem marcada da vegetação. Assim, é possível definir três grandes andares de vegetação, basal, intermédio e superior, que podem ser caracterizados pela sua vegetação atual, potencial e respetivas etapas de substituição.

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 Vale da ribeira de Loriga

 Covão da Ponte

O andar basal, desde o sopé da montanha até aos 800-900 metros de altitude, seria formado por vastos carvalhais perenes mediterrânicos de azinheira (Quercus rotundifolia) e sobreiro (Quercus suber), nas vertentes sudeste e sudoeste, e carvalhais caducifólios de carvalho-alvarinho (Quercus robur) a ocidente, norte e noroeste. Extensos bosques de freixos (Fraxinus angustifolia) ocorreriam associados a solos húmidos e, nos vales ao longo das linhas de água, existiriam densas galerias ripícolas de amieiros (Alnus glutinosa), salgueiros (Salix sp.), ulmeiros (Ulmus minor) e azereiros (Prunus lusitanica).

Na atualidade, a maioria destas formações ocupam áreas reduzidas ou desapareceram completamente para dar lugar a áreas de cultivo, prados, pastagens, povoamentos florestais e matos em função das atividades  humanas. Vestígios da primitiva cobertura vegetal deste andar podem ser encontrados ao longo de vales encaixados, dos quais é exemplo o bosque de azereiros de Casal do Rei.

3-Azinhal 4-Azereiro
 Azinhal, Quinta da Taberna  Azereiro



No andar intermédio, localizado entre os 800-900 metros e os 1600-1800 metros de altitude, a vegetação espontânea potencial seria formada por bosques de carvalho-negral (Quercus pyrenaica) e azinheira, nas vertentes sudeste e sudoeste de características climáticas marcadamente mediterrânicas, e por bosques de carvalho-negral, nas vertentes ocidentais com características mais atlânticas. Sob condições edafo-climáticas mais húmidas desenvolviam-se bosques de bétulas (Betula alba) e teixos (Taxus baccata). Destas formações subsistem manchas residuais, devido principalmente aos incêndios e às práticas agrícolas e silvopastoris. Os antigos bosques foram, assim, substituídos por etapas degradativas representadas por urzais (Erica sp. e Calluna vulgaris), giestais (Cytisus sp. e Genista sp.), ou caldoneirais (Echinospartum sp.) e por prados pioneiros em locais onde a degradação se fez sentir com maior intensidade.

5-Bosquedecarvalho 6-Caldoneira 13 - barroca do teixo

 Bosque de carvalho-negral, Manteigas

 Caldoneira, serra de Baixo

  Bosque de bétulas e teixos


O andar superior, localizado acima dos 1600-1800 metros de altitude, é o menos desenvolvido, não só devido à altitude, como também à sua pequena extensão territorial, sendo, em simultâneo, aquele em que a ação do homem menos se fez sentir. No passado, aquando do recuo dos glaciares, a bétula, o carvalho-negral, o pinheiro-silvestre (Pinus sylvestris) e o teixo marcavam presença neste andar em conjunto com o zimbro (Juniperus communis), o piorno (Cytisus oromediterraneus) e a caldoneira (Echinospartum ibericum).No presente, a vegetação predominante é constituída por um mosaico de formações arbustivas (piornais, caldoneirais, urzais e giestais), marcado pelo domínio do zimbro, que se desenvolve entre prados de montanha, comunidades rupícolas e lacustres.

Neste andar encontram-se muitos dos habitats com estatuto de conservação prioritário na serra, de que são exemplo os cervunais (prados de montanha), as charnecas e os matos de altitude, as cascalheiras e outros ambientes rochosos, as turfeiras e a vegetação marginal e flutuante associada aos biótipos lacustres e cursos de água. Algumas destas comunidades, que em Portugal apenas aqui se encontram representadas, suportam uma grande diversidade de espécies de flora, revestindo-se, por isso, de elevado interesse científico e ecológico.

7-Zimbral 8-Cervunal 10-Teucriumsalviastrum
 Zimbral

 Cervunal, Nave de Santo António

 Teucrium salviastrum

Da flora da Estrela fazem parte um pouco mais de 900 taxa de plantas vasculares, que representam cerca de um terço da fitodiversidade nacional, alguns deles endémicos da serra tais como: Festuca henriquesii, Silene foetida foetida e outros de ocorrência restrita em Portugal, correspondentes a elementos florísticos Mediterrânicos, Atlânticos, Continentais, Alpinos e Boreais. No Parque Natural da Serra da Estrela existem 32 habitats incluídos no Anexo I da Diretiva "Habitats" e cerca de um quarto das espécies de plantas descritas nesta área fazem parte da lista preliminar para o Livro Vermelho das plantas vasculares de Portugal.

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 Festuca henriquesii

 Criptograma sp.

 

Serra da Estrela